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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Minha filha cresceu.


 
Sempre dizem que sou um bom sujeito, mas muito ranzinza, claro que respondo que a vida me fez assim, porém insistem e dizem que não a mau que sempre dure, dizem incessantemente que Deus ajuda quem cedo madruga, e que o melhor está por vir, mas já é madrugada, tenho anos que não dá mais para contar juntando duas vezes meus dedos dos pés e das mãos, ando saturado de conversas sem conteúdos, sem estímulos para o trabalho, trabalho esse que outrora me rendiam bastante prazer, não sei direito como deixei chegar a esse ponto, não sei como me permiti excluir-me tanto assim do convívio da família, saio cedo para o trabalho e sempre chego muito tarde, graças a Deus tenho minha flor-mulher que por mais que eu me ausente mais ela me perdoa, me compreende e me ama, mas não posso exigir o mesmo dos meus outros entes tão queridos quanto, hoje só para variar ao sair do trabalho passei no bar e é claro que ingeri álcool suficiente para ir de Fortaleza a São Paulo se eu fosse um carro a álcool, quando cheguei em casa já era de madrugada, tudo seria exatamente igual a todas as sextas, eu chegaria tomaria um banho bem gelado, tomaria um café bem quente, sentaria em frente ao computador e esperaria o sol nascer, minha filha e a flor-mulher acordariam e eu iria dormir e assim passaria todo o final de semana, me isolaria do mundo que eu até então acreditava está repleto de pessoas insignificantes e só abriria exceção se a flor-mulher fosse até nosso quarto, caso ela por lá aparecesse eu lhe cobriria de beijos e depois voltaria para meu casulo e só sairia de lá na segunda-feira ás 7:00 da manhã para ir trabalhar, porém o diferencial dessa madrugada de sexta-feira foi gritante, cheguei em casa por volta das 4:00hs da manhã, na sala mesmo, já fui me despindo para entrar no banheiro social para que nem o menor movimento pudesse despertar a flor-mulher que certamente dormia o sono dos inocentes, resolvi antes de entrar no banheiro ir até a cozinha e preparar um café, os quartos de minha casa ficam na parte de cima, quando a cafeteira começou a apitar escutei junto dos apitos da cafeteira um barulho vindo de um dos quartos, de imediato pensei ser um ladrão, eu estava apenas de cueca, mesmo assim agarrei uma faca e subi as escadas, quando cheguei no início do corredor, parei e escutei melhor, não era ladrão, parecia que alguém estava fazendo amor, aqueles sussurros e gemidos me dilaceravam o coração, antes mesmo de invadir a chutes o quarto comecei a visualizar a cena da minha flor-mulher entregue ao mais profano dos gozos nos braços de seu amante supostamente bem mais novo e viril que eu, quanto mais essa cena se ampliava em minha mente mais os gemidos aumentavam, eu já não tinha mais certeza do que eu queria, eu já não sabia se devia entrar no quarto e ver todo meu conto de fadas se desmontar na minha frente e matar o infeliz que desonrou meu lar e esbofetear a flor-mulher que ousou me trair ou se eu fingia não ter visto nada e sumiria dali, mas aquela cena imaginária de sexo que eu atribuía a minha flor-mulher talvez estivesse sendo retirada do meu subconsciente, das quatrocentas traições minhas para com a flor-mulher, mas óbvio que na hora não foi bem isso que pensei, eu simplesmente não pensei em nada dei um chute violento na porta do meu quarto que a porta foi ao chão e o que eu encontrei em meu quarto foi um olhar assustado de uma doce mulher que acordara de um sono tranqüilo com a porta de seu quarto sendo invadida por um marido bêbado, só de cueca e com uma vaca na mão, quando olhei para o lado vi sair também assustada do quarto ao lado minha filha, tentei explicar para ambas o inexplicável, disse ter ouvidos sussurros porém menti em um fato, disse que havia arrombado a porta por achar que a flor-mulher estava sendo violentada, mas minha filha muito calmamente disse-me que o barulho que eu havia escutado era ela quem estava fazendo pois ela e o namorado estavam fazendo amor, após essa frase proferida foi até o quarto e trouxe um homem agarrado pela mão, eu queria matá-lo, queria colocá-la de castigo mas o choque foi tão grande que só consegui fazer uma pergunta, a pergunta que mudou a minha vida.
__ Desde quando você engana a mim e sua mãe e traz namorado para casa?
A resposta veio violenta e avassaladora.
__ Eu não engano a ninguém, minha mãe sabia que o André às vezes dorme aqui em casa, minha mãe sabe que já namoro com ele há um ano, minha mãe sabe que já a um bom tempo nós fazemos amor, agora se você não sabia, eu não posso fazer nada, você passa a semana toda ocupado e os finais de semana ou é bebendo ou trancafiado no quarto escrevendo no computador impropérios sobre a raça humana que pra você seria melhor estar extinta, você fingi que trabalha muito, anda sempre mal-humorado, se exclui de tudo e de todos, não quer ser julgado mais é o primeiro a julgar, vou te contar um segredo, não é só você que tem um trabalho que não gosta ou que não é melhor recompensado, não é só você que quer e precisa sumir de vez em quando, não é só você que consegue enxergar os defeitos dos outros, não é só você que consegue captar a verdade em meio a mentira, ou você acha que caímos nessa história de estupro? Não, não caímos. Certamente você achava que estava sendo traído e por isso arrombou a porta e sabe por que você achou isso? Achou por que sabe que está merecendo ser, a cerca de mais ou menos uns 10 anos você vem piorando eu só tenho boas lembranças sua de quando eu era criança, você trai descaradamente a mamãe e a pobre finge que não nota, meu irmão saiu de casa pra buscar sua própria identidade já que nunca teve um exemplo de homem pra se espelhar, acho que você não percebe, mas você nem de longe está sendo um bom homem, um bom pai e muito menos um bom marido, mas ninguém quer que você seja bom em nada basta apenas ser, ser um homem, um pai, um marido. 
Fiquei horrorizado em ouvir tudo aquilo, mas pela primeira vez alguém tinha me dado um sacode que me fez pensar, até então não tinha reparado que minha filha não tinha mais 11 anos ela agora era uma mulher e se ela nada tivesse dito eu iria continuar agindo assim até o dia que aquela cena sexual imaginária se tornasse realidade e eu perdesse meu bem mais precioso, a flor-mulher, então pedi desculpa a todos e fui para o meu quarto decidido que quando eu acordasse tudo seria diferente.
O dia amanheceu e o sábado estreou, como não dormi me levantei cedo, comprei flores, rosas, vinho, carvão, carne, mais tarde todos foram acordados pelo perfume do churrasco espalhado pela casa.
Ao lado da porta destruída do quarto da flor-mulher coloquei um lindo buquê de flores brancas e amarelas com um bilhete “Para a flor mais linda do meu jardim, você já resistiu a todas as tempestades agora vão vir apenas dias de sol, EU TE AMO”, ao lado da porta do quarto de minha filha coloquei um buquê de rosas vermelhas com um bilhete “Para a menina-mulher que conseguiu abrir os olhos de um homem cego que não enxergava o melhor da vida, EU TE AMO MINHA FILHA” e um charuto com um bilhete “André venha até a churrasqueira para fumarmos esse charuto em comemoração ao nascimento de um pai”.
Não sei o quanto isso vai durar, mas realmente pude constatar quanto tempo eu perdi querendo concertar os problemas do mundo, quanto tempo eu perdi querendo evitar os aborrecimentos que todos devem passar, não sei se vai ser mais fácil a partir de agora, mas pelo menos sei que não estou sozinho e assim pela primeira vez em anos, tivemos um almoço em família.

Um comentário:

  1. "eu chegaria tomaria um banho bem gelado, tomaria um café bem quente, sentaria em frente ao computador e esperaria o sol nascer, minha filha e a flor-mulher acordariam e eu iria dormir e assim passaria todo o final de semana" Sei lá! mas acho que você não ama sua mulher e pior não permitiria que outro homem fizesse o que você não faz...abçs

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