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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Nada de politicamente correto.



Hoje peço desculpas, minha criatividade anda meio em baixa, na verdade anda em baixa total, estou mais parecendo com um carro velho, empurro, empurro, tento dar a partida, mas nada, nadinha mesmo.
Carrego em mim o peso de uma vida de desamores, cicatrizes num coração safenado, tenho um pulmão tão negro quanto minha alma, uma angustia vive presa em minha garganta, as mãos tremulas são o meu relógio do tempo, tudo meu está parando mesmo que eu insista em fingir e mentir pra mim mesmo, mesmo que eu minta minha idade, mesmo que ridiculamente eu continue a usar roupas de jovem, mesmo assim o tempo não me dá chance, e ele passa na velocidade de um cometa e eu nada mais sou que um espectador lerdo, que nem ao menos tentou acompanhar o desenrolar da história.
Definitivamente o tempo é o meu pior inimigo, pouco me importa a experiência que tenho, estou andando e cagando para o aprendizado de uma vida, e pouco me importa que agora estou mais sábio e tenho mais dinheiro do que tinha aos vintes anos... Ao menos aos vintes anos eu tinha uma vida, hoje só me restou assistir o jornal da noite, tomar uns goles com amigos e fingir que ainda sou capaz de dar prazer a uma jovem mulher que para que ela possa mentir e para que eu não me mate na hora seguinte, na verdade estou cansado de fingir... Eu queria era fugir!
Sim. Estou realmente revoltado com minha idade, não gosto de ser velho. E digo velho sim e que se foda o politicamente correto, esto tão revoltado que agora sou um velho com instinto assassino, hoje pela manhã fui comprar o pão, como faço todos os malditos dias da minha vida, na volta pra casa quando entrei no elevador, uma jovem do lado de fora grita:
__ Tio, segura a porta pra mim, por favor.
Juro que por um milésimo de segundo pensei que ela não estivesse falando comigo, mas minha esperança foi arrancada de mim como uma criança é arrancada das entranhas da mãe. Nesse momento eu já fiquei chateado, mas tentei retirar à má impressão, então resolvi puxar papo.
__ Oi lindinha você é nova no prédio?
E ela responde, praticamente com uma faca nos lábios:
__ Óóóóó lindinha!!! É assim que meu avô me chama. Achei o senhor um fofo e moro há pouco tempo aqui.
Enquanto ela falava pensei em sufocá-la com um pão, mas me controlei e continuei a conversa:
__ Cuidado garotinha não me compare com seu avô, que no meu caso a idade não quer dizer nada.
E dessa vez ela cravou a estaca no meu peito imundo:
__ Tio, eu faço faculdade de história e pra mim pessoas da sua idade são como lendas, pois você já viveu mais de meio século de história. Caraca o senhor é quase um mito.
Engoli a seco tudo que aquela boquinha proferia, e fiz minha última tentativa antes de cometer um assassinato e um suicídio:
__ Pra você o sexo tem idade?
E ela então, sacou seu 38 e atirou:
__ Pra mim não, mas o senhor ainda lembra o que é isso?
O Elevador chegou ao meu andar e como um verme eu me arrastei até meu apartamento, joguei os pães sobre a mesa, caminhei até meu computador e resolvi escrever a única frase que ficou martelando a minha cabeça desde a hora que eu acordei, mesmo completamente descrente da veracidade dessa frase, mesmo assim, agora transcreverei, pois hoje, agora ela é meu único refugio:
__ Espero que 2012 o mundo realmente acabe!
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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Perdi o tesão!



Sei lá, acho que perdi o tesão, ando meio sem saco pra escrever, estou completamente desanimado... A lua já não brilha, o céu perdeu as estrelas, o álcool perdeu o sabor, a vida anda meio sem cor.
Acho que até gosto desse drama barato que vivo, sou um escritor e escrevo minhas tormentas, já pensei em jogar tudo pro alto, comprar uma casa numa praia deserta, viver pescando, abandonar os filhos, a esposa, o trabalho, as contas, abandonar meus traumas, meus complexos, minhas falhas, mas ai eu não seria eu, e daí? Esse eu é tão importante assim, a ponto de não querer abandonar? Não, não sou tão importante assim, sou só um estranho em minha casa, nem sei se essa casa é minha, afinal a qualquer hora meus filhos me internam num asilo e ai, já era, era uma vez um péssimo pai, péssimo marido, péssimo homem.
Nossa, hoje eu estou dramático! Preciso encher a cara, preciso sorrir, preciso viver, nem lembro a ultima vez que dei uma boa gargalhada, não gosto dessa minha cara amarrada, não gosto de todos os dias reclamar da vida, mas estudei tanto, me reciclei, vivi tempos difíceis, criei e eduquei filhos num país onde pobres não podem ser educados, corri atrás e agarrei as oportunidades com as unhas, lutei contra o sistema, abdiquei de prazeres por uma união de almas, joguei, ganhei, perdi,errei, dei nome ao jornal, publiquei livros e mesmo depois de tudo isso, aquele editorzinho de merda me entrega a carta de demissão e um me dá um belo chute na bunda... O mundo é justo? A vida vale à pena?
Eu sei que tudo vai passar, eu sei que Deus ajuda quem cedo madruga, eu sei que o bem sempre vence, mas, por favor, não venha me dizer nada disso, por que caso o contrário você, caro amigo vai ouvir um belo e sonoro...
“Vai se fuder”!
A vida é uma merda, e eu sou o porco que viveu durante tempos na lama e no dia que sai dela é para ser comido. Analogia triste? É eu sei que é, mas não deixa de ser verdade!
Chega!!! Agora chega... Pego o copo de veneno, minha mão treme, tenho medo de que depois de um merda de profissional, um bosta de pai, marido e homem, tenho medo de ser um covarde, preciso sair dessa vida como um homem... Chegou o momento, e de uma vez só, bebo o veneno letal, o coração parece explodir e BUMMMM!
Droga! O despertador tinha que me acorda no melhor do sonho! Preciso ir trabalhar!
Vocês não acharam que eu ia me matar mesmo não é? Tenho muito sexo pra fazer, muita mulher pra conhecer, e muita raiva para dar ao meu editor chefe... Tudo não passou de sonho!
Os prazeres da vida são os dissabores dela!
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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Abaixo ao socialismo, abaixo ao comunismo, abaixo a ditadura por que hoje eu só quero amar!



Hoje aqui na redação do jornal uma bela mulher passou por mim, e deixou seu perfume espalhado pelo ar, esse aroma eu já conhecia, os pelos dos meus braços reagiram, minha mente me transportou pra um passado doloroso ....
Parece que foi ontem, lembro do barulho que o vento fazia ao balançar as folhas, lembro do brilho do sol, lembro mais especificamente do raio do sol que iluminou seu rosto, nossa, você realmente era a garota mais linda que estudava naquela faculdade, eram anos difíceis, a ditadura não dava trégua, a UFC (Faculdade Federal do Ceará) estava em chamas, o mundo estava caindo, mas naquele instante minha única preocupação era a vontade de ser a latinha de coca-cola que você bebia, eu sabia que tinha que me aproximar, puxar papo, ao menos me apresentar, mas não tive coragem, eu sempre fui falastrão, desinibido, solto e descolado, mas quando amor bateu, bateu tão forte que calou minha voz e matou minha ousadia, você era linda, meiga, todos os rapazes matavam e morriam por você, eu era feio, barbudo, revolucionário, fumava, bebia,  eu sabia que nada eu poderia querer contigo já que comparado a você, nada eu era.
Ai veio a primeira reunião do grêmio estudantil para todos os alunos da faculdade, muita falação, política, festa, cerveja e farra, pronto, eu já havia decidido, aquele seria o momento ideal para te roubar um beijo, lembro que quando você chegou a música parou, agora o amor estava me deixando surdo, você passou por mim e nem me viu, mas deixou no ar o cheiro embriagante de seu perfume caro, cheirava a elite crearense, mas naquele momento eu só pensava, abaixo ao socialismo, abaixo ao comunismo, abaixo a ditadura por que hoje eu só quero amar, essa teria sido uma ótima frase para eu ter dito a você mas faltou coragem.
Eu não conseguia entender, como eu tinha tanta coragem de lutar sem armas contra o exército e não tinha coragem de te falar apenas a um simples Oi ?
Como eu conseguia confrontar o meu pai recusando-me a fazer Direito e escolhendo pelo jornalismo e não tinha coragem de tocar na sua mão?
Eu nunca fui muito de me apaixonar, sempre me perdia atrás de mil encantos e belezas, mas nunca atrás do amor, e quando você me apareceu, sabia que pra sempre você seria minha Flor, minha mulher, meu amor.
Tomei coragem, caminhei até você, é engraçado dizer, mas essa caminhada levou uma eternidade, o som da festa estava alto, mas eu só conseguia ouvir o ritmo descompassado de meu coração ritmando os movimentos de minhas pernas.
Toquei de leve a sua mão, encostei meus lábios em sua orelha e com a voz meio que embargada disse:
__ Muito prazer meu nome é Airton, e eu serei seu futuro marido.
Não deixei você responder, rapidamente preparei meus lábios para um beijo avassalador e quando eu já estava quase sentindo seus lábios junto aos meus, alguém me puxou, era Eduardo um amigo veterano da faculdade, desesperado ele me disse que a polícia invadiu a festa e quem não escapasse iria parar na prisão do exército e naquela época amigo, quem era estudante e ia para a prisão, era torturado e muitas vezes assassinado, mesmo sabendo de tudo isso eu me soltei das mãos do Eduardo e corri feito um louco pelo saguão para reencontrar Luiza, ao longe a vi, e gritei seu nome umas três vezes, ela se virou, me olhou, mas nesse momento um guarda me puxou, me jogou na parede, com voz grave me perguntou:
__ Você é baderneiro rapaz? Quer fazer revolução???
Imediatamente respondi:
__ Abaixo ao socialismo, abaixo ao comunismo, abaixo a ditadura por que hoje eu só quero amar!
O guarda me soltou, por pena, por entender o amor, por achar que eu era louco, nem sei, mas importante é que ele me soltou, mas em meio a todo aquele alvoroço não mais consegui encontrar Luiza.
Naquele dia eu reneguei minha luta de uma vida inteira, joguei no lixo minha causa e mesmo assim perdi um amor que certamente duraria a eternidade!!!

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