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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Mulher!!!

É muito engraçado como pequenos acontecimentos nos remetem ao passado a muito esquecido, ontem eu estava aqui nesta mesma cadeira de frente para meu velho e querido amigo, olhando atentamente na tela do computador, tentando desesperadamente escrever algo que pudesse chamar de crônica, quando surge em minha frente o grande João Guilherme, com olhos tristes e mãos que não paravam quietas, o Guiga tem 16 anos, eu o conheço desde que ele tinha 05 anos, sempre freqüentou minha casa e é o melhor amigo de meu filho.
Guiga senta ao meu lado, mas não fala nada fica apenas me incomodando com o tamborilar dos seus dedos na mesa do meu computador, quando percebo que vou estrangulá-lo se ele não sair logo dali, resolvo perguntar se ele está precisando de algo, tipo uma conversa, um ombro amigo ou somente um soco mesmo, Guiga então faz a seguinte pergunta “Como entender o que se passa na cabeça de uma mulher?”
Caros leitores, nessa ele me pegou, mas não podia mostrar que não sabia a resposta então resolvi falar o que me veio à cabeça, ou seja a resposta mas idiota possível, respondi o seguinte “Sexo, se você está com problemas com alguma namoradinha Guiga, arraste ela para um motel e explore o corpo dela como se você nunca mais fosse tocá-lo novamente” E com essa pérola ainda me massacrando os lábios Guiga sai satisfeito e eu pude continuar a não escrever.
Horas mais tarde, com alguns goles de vodka na cabeça, comecei a tentar encontrar resposta para aquela famigerada pergunta. Hora bolas, logo eu que sou um apreciador da beleza feminina, será que não consigo compreender o interior de uma linda mulher?
Então resolvi não pensar nas mulheres que me apaixono todos os finais de semana, não pensarei em minha esposa por que com ela é amor, resolvi pensar na minha primeira paixão e foi ai que encontrei minha resposta e agora transcreverei em detalhes minha história e a grande descoberta!
Eu tinha 15 anos quando a vi passar pelo calçadão, Sofia sempre foi minha amiga, mas naquela tarde e com a luz do sol ela estava especialmente linda, cheirava a jasmim, não sei o que me deu, mas eu nem consegui falar, algo dentro de mim gritava, mas por fora eu era apenas silêncio, óbvio que Sofia estranhou minha postura e com um sorriso nos lábios, fez um sinal discreto com a cabeça e eu a acompanhei, segui ela por longos 30 minutos, quando percebi estávamos numa casa abandonada, senti seus olhos me devorando, e logo voltei a sentir cheiro de jasmim, Sofia estava bem perto de mim, suas mãos tocavam levemente meus braços, agora seus lábios estavam colados aos meus, sua língua passeava delicadamente dentro da minha boca, meus olhos não piscavam acho que eu tinha medo de piscar e quando abrir os olhos aquilo tudo ser somente um sonho, o meu corpo estava respondendo aos seus carinhos, ela mordeu minha boca, quando percebo estou deitado no chão, eu estou nervoso, e ela calma apenas conduz minha mão, minha boca, meu... Desejo jorra, a noite cai e ela vai embora, nunca mais eu a vi, anos depois soube que aquela foi a última noite dela em Fortaleza, porque seu pai havia recebido uma promoção e teria que se mudar para Boston.
Lembrando dessa história achei minha resposta... Pois éramos amigos e eu nunca a tinha notado, mas quando ela soube que iria embora, ela se fez notar, me deixou apaixonado, fez amor comigo e levou com ela meu coração e olha que ela só tinha 15 aninhos. Nós homens não precisamos compreender uma mulher, mas sim amá-la, devemos nos perder no veneno dos seus beijos, devemos nos deixar levar por uma paixão avassaladora, devemos saber que as mulheres são mil vezes mais inteligentes que nós, pois a maioria dos homens tentam conquistar uma mulher com dinheiro, força ou persistência, já a mulher quebra o homem com um simples sorriso, toda mulher pode conquistar um homem, mas nem todo homem pode conquistar o coração de uma mulher.
Com a resposta na ponta da língua, no dia seguinte resolvi procurar o Guiga, mas foi ai que a vida resolveu dar-me uma rasteira, encontro o garoto na rua, mas antes mesmo de contar-lhe minha descoberta ele me abraça e diz “Tio, obrigado por seu ótimo conselho, fiz tudo do jeito que o senhor falou e agora eu estou namorando com sua filha, agora tenho que ir pra aula, tchau”
Eu ainda tentei matá-lo, mas ele é jovem e corre muito rápido!
Na próxima vez penso melhor antes de responder alguma coisa.  
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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Amigo de bar


                                                                         
Nada mais fiel que um amigo de bar, pra ele podemos contar de tudo pois por mais bizarro que a história pareça ele sempre esquecerá no dia seguinte, ou pelos menos, deveria esquecer, mas para meu caro amigo Augusto Piettini a história não foi bem assim.
Como já é de costume, fui passar a noite de sábado enchendo a cara no botequim da esquina, eu estava sem a menor disposição para o sexo casual ou mesmo para minha velha escrita vulgar, então resolvi beber com os amigos pra desanuviar a cabeça e talvez obter informações para uma futura crônica banal, mas a noite esconde mil dramas, e meu ouvido e olhos estavam violentamente inspirados, olhando o botequim por inteiro, notei que meu amigo Augusto bebia sozinho, Augusto é um sujeito tipicamente normal, acho que dos amigos que tenho o Piettini é o único normal, é um arquiteto bem sucedido, casado, já tem dois filhos que estudam na Europa, Piettini, quase todos os domingos bebe conosco, mas é sempre um dos primeiros a sair, geralmente brecamos com o álcool juntos, eu sempre vou em busca do perigo, do amor de uma noite, do desejo lascivo e Piettini, pensava eu que iria para casa, deixemos os voltas para autores de romance... Resolvi sentar-me na mesa com meu amigo, por que sempre que vejo um amigo bebendo sozinho, imediatamente me ponho a pensar o que de tão grave estaria acontecendo em sua vida, por que para mim, beber sozinho é um passo para o suicídio, pois bem sentei ao seu lado e observando em silêncio vi que ele acabara de beber em um único gole uma dose dupla de wisque e uma lágrima rolou de seus olhos e morreu em sua boca, naquele momento soube que algo de errado acontecia, pensei em levantar-me e fingir que nada tinha percebido, pois não sou amigo de ombro sou mais de cuíca e cerveja, mas a verdade é que eu já estava preso naquele momento, então perguntei o que estava acontecendo, e se eu poderia ajudar, e foi aí que a história começou a tomar proporções gigantescas, transcreverei agora suas palavras com uma pequena licença a ética literária.
“Amigo, não tenho mais o que fazer, não sei com quem falar, tenho um problema e não tem cura, solução ou nenhum jeito que eu já não tenha tentado, estou cansado de viver uma vida que não é minha, casado de viver a sombra dos meus medos, cansado de fingir pra todos que sou o que nunca nem tive vontade de ser, tenho medo de por uma escolha que nunca foi minha eu colocar toda uma vida que foi construída a duras penas no lixo”
Sinceramente leitor, até então eu não tinha compreendido nada, talvez você já tenha descoberto qual será o final dessa conversa, mas eu nunca tinha me deparado com esse tipo de conversa, com esse tipo de dilema, então para mim ele poderia está falando até da queda da bolsa de New York, mas nunca poderia imaginar o final da conversa sem que saísse de sua própria boca, e ele continuou.
Sei que muitos me darão as costas, sei que muitos não me compreenderão, mas a verdade bate todos os dias a minha porta é como a morte reivindicando seu morto, é como o choro de uma criança com fome, é como a verdade arrobando a porta e agora é a hora dela sair, amigo eu sou gay
Mas uma lágrima corria pelo seu rosto, eu fiquei mudo, a frase dele ainda ecoava em meus ouvidos, naquele momento até o ar parou de freqüentar meus pulmões, pela segunda vez na vida alguém, conseguiu me calar.
Caros amigos, deixando o politicamente de lado, naquela hora passado o susto, a vontade que tive foi de perguntar se ele não tinha vergonha de não gostar de mulher, queria levá-lo as pressas para o melhor puteiro da capital para umas das rosas dar-lhe um trato de deixar o homem sem sentido, tive vontade de dar-lhe uns catiripapos e mandar-lhe ser macho, mas pensei bem, respirei, e pude observar o núcleo dessa questão, imaginei quantos anos esse homem estava sofrendo se escondendo à sombra no anonimato, pensei em o quanto foi difícil ele dizer isso para mim e pensei  o quanto seria ainda mais difícil ele dizer para sua esposa e filhos, eu sabia que os amigos do boteco não iriam entender, eu e ele sabíamos que ele iria ser ofendido e até mesmo agredido por muitos e depois de pensar nisso tudo a única frase que consegui pronunciar foi “A vida não vai ser nada fácil” e ao ouvir essa frase idiota o meu amigo de anos se levantou, beijou minha cabeça e saiu do bar, mudo, aparentemente humilhado, eu sei que ele merecia mais de mim, se ele me disse tudo aquilo, no mínimo eu deveria ter dado uma força, um toque, um abraço, deveria ao menos ter me mostrado solidário, mas não o fiz, não fiz nada, e como um verme me arrastei para a casa, em cada esquina desejava encontrar um facínora que pudesse dar cabo da minha imunda vida, mas não o encontrei, deitei na cama e rolei por horas, sem conseguir dormir, peguei o telefone e liguei para o Piettini, mas ninguém atendeu, lá pelas tantas consegui dormir, quando amanheceu, o céu parecia triste, no ar algo de pesado e sofrido o telefone tocou, sem ânimo atendi, a notícia veio seca e violenta Piettine se matou.
Hoje fiquei um pouco órfão, órfão de bom senso!
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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Amor(utopia) e paixão(sexo)!




Sempre ouvi dizer que o amor cura tudo, mas hoje me ponho a perguntar “cura o que, se antes do amor não sentia dor e nem estava ferido?
É lamentável colocarmos nossa alegria, desejo, auto-estima, colocarmos tudo que temos de bom em apenas uma única pessoa, acabamos por viver a vida do outro, no início do relacionamento você sabe sua cor preferida, sua comida predileta e só vai ao cinema para ver filmes que realmente te agrada, mas depois de está amando, se alguém te pergunta qual sua comida predileta, você já responde quase que automaticamente que é a comida do outro, o tipo de filme do outro e passa a usar roupas que tenham a cor preferida do outro. Para você só resta o anonimato num relacionamento onde teria supostamente que ter duas cabeças pensantes, mas quando o amor finda podemos perceber nitidamente que não sabíamos nem mais falar um simples “Eu” só conseguíamos falar “Nós”.
Não é que eu seja contra o amor, mas já vivi muito pra saber que o coração batia tranqüilo e sossegado antes do famoso amor penetrá-lo sem ao menos convidá-lo para um jantarzinho, o amor entra rápido e quando menos esperamos, ele arrebenta o coração, destrói a alma e deixa burro o cérebro, fazendo-nos acreditar como uma certeza iminente que jamais haverá outro amor como aquele que a pouco partiu.
Não conseguimos passar pela vida sem nos apaixonarmos, não sou contra a paixão, pois quando estamos apaixonados tudo tem um prazer maior, o sexo é frenético, as mãos procuram os corpos, as bocas se encontram no escuro, o pensamente tem sempre um senso comum e um dia a paixão acaba, pronto, cada um vai para o seu lado em busca de uma nova paixão para esquentar o coração e ressuscitar o tesão, já o amor não, tem nele implícito uma espécie de obsessão doentia, já começamos a idealizar um futuro sem ao menos viver o presente, dedicamos tempo demais à algo que certamente deseja o abandono para ressurgir com mais voracidade, acredito que a maioria dos amores não dão certo por que antes os seres envolvidos passaram pela paixão e agora fazendo uma analogia débil, é o mesmo que dar várias voltas na montanha russa e de uma hora para outra trocar de brinquedo e dar milhares e milhares de voltas no carrossel, então caro leitor, se você acha que encontrou o amor da sua vida, se apaixone e torne-se apaixonável todos os dias, mande flores, surpreenda no sexo, beije sua esposa, namorada, como se ela fosse uma prostituta, seduza, domine,seja dominado, encante, cante, seja atraente, diga que sente desejo por ela,lembre-se que mulher é audição,então fale o que ela deseja ouvir e pra isso funcionar, conheça os desejos mais sórdidos e secretos de sua fêmea, por que se você relaxar demais certamente outro poderá ocupar a adrenalina da montanha russa e você ficará por muito tempo dando voltinhas num carrossel chamado ilusão do amor!
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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Álcool e escrita


Geralmente quando me encontro nesse estado etílico sinto-me inspirado a escrever a madrugada inteira, porém hoje o álcool abriu minha mente para o total descaso que a humanidade faz pelo talento da escrita. É muito comum vermos um pai comprar um jogo de vídeo game do lançamento para seu filho, é muito comum vermos uma mãe comprar para sua filha uma sandália da moda, mas raramente vemos um livro sendo dado de presente para uma criança.
Hoje, nessa madrugada solitária, me revoltei com a escrita, desisto de escrever, não quero mais isso para mim, vivo em um país onde ninguém dispensa o devido valor para tal oficio, sei que nessa noite o álcool foi meu conselheiro, mas se é verdade o que dizem “Quando álcool entra a verdade sai” então realmente me sinto um inútil ao passar a madrugada diante dessa tela de computador podendo está fazendo amor com uma mulher jovem que me remeteria à um passado de glória.
Mil perguntas norteiam minha mente e uma delas é “para que serve os meus texto? ” A resposta vem rasgando a garganta e respondo em voz para dor ser mais violenta: __ Para nada, o texto será lido por poucos, esquecido por muitos e amanhã nada mais será que um pedaço de papel de enrolar peixe em um mercado vagabundo! 
Repito essa frase umas três ou quatro vezes para que eu entenda de uma vez por toda que vivo num país de ignorantes, com uma literatura com cheiro de naftalina e que tem como governante uma mulher que finge lutar por sua classe mais que é na verdade um fantoche na mão de homens machistas e que não querem abandonar o poder e por falar em política, vivemos num país onde elegemos palhaço como deputado e palhaço esse que em sua campanha disse em português claro que iria ajudar as famílias carentes começando com a sua e mesmo assim ele foi eleito, fico abismado como pode caminharmos em marcha para o abismo do ostracismo e não fazermos nada para impedir.
Sou um saudosista de plantão, cadê o povo que participou das Diretas já, cadê os estudantes revoltados que lutaram contra a ditadura militar, cadê o amor à Pátria, cadê o sentimento de revolta?
Parece que todos que participaram desses movimentos não tiveram filhos e netos, e se os tiveram não souberam passar esse espírito revolucionário.
Falar de saúde, cultura ou mesmo política parece ser algo ridículo, ainda mais no estado onde vivo, por que aqui no CE até garota de programa já foi eleita deputada, não estou dizendo que ela seja incapaz de realizar um bom trabalho no posto ao qual foi eleita, apenas acho que ela passou a vida toda fazendo um outro tipo de trabalho e acho difícil mudar o cotidiano, é o mesmo que eu que só escrevo decidir de um dia para outro passar a construir edifícios. Isso só poderia dar em merda!
No twitter uma jovem paulista desdenhou de nós cearenses, mas foram os paulistas que elegeram Tiririca como deputado, pois para nós nordestinos o Tiririca não passa de um ótimo humorista, mas paulistas não fiquem chateados em terem elegido tal deputado, por que burrice é um privilégio da raça humana, eu sou um cearense apaixonado por minha terra e por seus mil encantos, mas mesmo assim não sou cego, aos abusos e burrices que nós mesmos causamos a nossa terrinha tão querida.
É só sair andando no calçadão da Beira-mar para vermos trocentas crianças se prostituindo, vendemos nossa cultura a preço de banana e servimos de palhaço para turistas com dólares no bolso, e enquanto isso, vendem nossas riquezas em prol de uma Fortaleza Bela que de bela não tem nem mais o céu estrelado, pois agora esse céu está manchado de lágrimas das mães que perderam seus filhos para as drogas.
É incalculável a dor de ouvirmos que cearenses são analfabetos, que morrem de sede ou fome e que nesse Estado todas as mulheres são prostitutas, não levanto bandeira de Estado nenhum, mas aqui tem de tudo, tem farra, tem bar, tem humor, mulher bonita, paz, sol... Tem de tudo, aqui tem o que você vem procurar, eu sou um apaixonado pelo Nordeste, o sol traz um brilho especial para os desejos mais secretos, é quente e nos induz a tomarmos bebida gelada em boa companhia, tem um mar salgado que nos transporta ao paraíso e tem em cada canto um amor de verão, então deixemos o julgamento se presta ou não presta para os falsos moralistas, por que de minha parte, acredito que... A Dilma irá romper as amarras e governará o País com pulso firme de mulher independente, o Tiririca saberá dar valor aos votos que teve e se tornará um dos deputados mais competentes da história, a prefeita de Fortaleza será tão inteligente que conseguirá conciliar a Fortaleza Bela tanto para o turista como para o morador, paulistas e nordestinos se tornarão aliados em busca de uma condição de vida mais justa para todos, e que o Nordeste será mais valorizado por todos, pois nele tem um povo guerreiro e solidário e quando isso tudo acontecer poderemos dizer que o Brasil será um País de primeiro mundo!
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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Trágica vida.

                                                
Quando a alma está obscura, quando problemas se acumulam, quando a dor lhe torna fraco, nada mais importa ou tem valor, ficando muito difícil acreditar num futuro melhor, e é exatamente nessa hora trágica que idiotas otimistas insistem em lhe dizer que dias melhores virão.
Não! Eu não mais acredito que a vida é justa, que pessoas boas se darão bem no final, isso só acontece em novelas bregas de autores ricos que alienam pessoas e as fazem se tornarem idiotas otimistas.
Sei que para 90% da população brasileira a vida não é justa, mas bem que eu poderia me encaixar nesses 10% que restam de boa vida, caso chovesse dinheiro, tenho certeza que em cima de mim cairia apenas os elásticos de prender dinheiro, não é que eu tenha pouca sorte é que eu apenas não a conheço, é melodramático? Pode ser, mas e daí? Se ser melodramático é descrever com verdade minha vida então sou um melodramático incorrigível e que se explodam os que acham que a grama do vizinho não mais verde, por que eu acho sim, acho tão verde que chego a sentir vontade de ir lá e cagar nela só para manchá-la de uma outra cor, o grande marrom.
Vivo minha realidade nua e crua e é essa realidade que levo pra cama todas as noites e que não me deixam dormir, estou cansado de fazer o que não quero só para agradar aos outros esses outros que nada fazem por mim, estou cansado de não ter e ter que ter pra dar, vivo nesse ir e vir sem razão, é difícil acreditar que dias melhores virão quando a todo instante você leva um soco no estômago da própria vida, quando ver pessoas más se dando bem e justo você que trabalha muito estuda bastante, justo você é quem se ferra, fica muito difícil acreditar naquilo que seus olhos não vêem, suas mãos não tocam, seu coração não sente, então por mais uma noite assim como milhões de brasileiros vou levar pra cama a cruel realidade da minha trágica vida. 
Para os otimistas de plantão digo que posso até está sendo fatalista, mas com certeza ao menos por hoje, sei que a vida não vai melhorar!

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A fúria.

                                      
É mais uma noite que sei, vou passar acordado alimentando esses problemas que talvez nem aflijam ninguém, mas a mim me arrematam, jogando-me no mais profundo dos infernos, hoje é uma daquelas noites que deveria tomar um porre e deixar o sagrado álcool fazer o efeito necessário, o do sono, mas não bebi erro meu erro só meu.
Desde que acordei percebi que não era um bom dia para levantar da cama, acordei com o pé esquerdo, pé esse que ao entrar na pantufa de veado que minha filha deu-me de presente e minha esposa obrigou-me a fingir gratidão, bom isso não vem ao caso, mas já foi dito, então ao enfiar o meu bendito pé naquela maldita pantufa, pisei na merda que meu cachorro o infeliz Rauf havia me congratulado, ok mesmo assim fui tomar banho, e água quente no chuveiro não tinha, resignei-me a tomar banho frio, após meia hora tremendo no quarto de tanto frio devido ao maravilhoso banho, fui tomar meu café da manhã que a flor-mulher prepara com todo cuidado e dedicação, sentei-me a mesa e ao beber o leite senti um gosto novo em minha boca, caro leitor, desde já digo que não será nada agradável ler o que agora vou escrever, então já avisado, continuo... Sinto um gosto novo ao beber o leite morno, quando retiro da boca vejo que duas moscas nadam fagueiras no meu gracioso néctar sendo que a terceira acaba de se esmagar em minha boca.                                                          
Saio de casa meio ressentindo os bolores da minha manhã nada agradável, vou até a garagem para pegar meu carro, penso melhor e desisto, pois com a raiva que eu estou sentindo se alguém me tranca no trânsito, saio do carro e mato o pobre infeliz que ousou atravessar meu caminho nesse dia tão mesquinho, pego o primeiro táxi que vejo pela frente, percebo que fiz bem, o trânsito estava infernal.
Sou muito Caxias, sempre sou o primeiro a chegar à redação, mas como hoje não era meu dia de sorte, devido o taxista ser um lerdo e todos os motoristas do mundo querer dar umas voltas de carro eu cheguei quinze minutos atrasados, o editor chefe do jornal decidiu dar uma de competente e me chamou para uma conversa tendo como motivo principal, porém não o único meu atraso de quinze minutos.
Dentro daquela sala me senti um verme, recebo reclamações e ordens de um moleque que mal sabe como escrever o próprio nome, não isso não é justo!
Tenho ímpetos de socar-lhe o rosto até poder enxergar meus dedos vermelhos com o sangue do moleque mau criado, tenho vontade de jogar seu corpo junto com o terno caro e bem engomado na parede e dizer-lhe umas poucas e boas, mas nada acontece além da vontade, escuto-lhe reclamar do meu atraso, do meu desleixo com as minhas roupas de ir trabalhar e como se isso tudo fosse pouco vejo brotar-lhe da boca a seguinte frase: “__ Suas crônicas eram boazinhas na época em que meu velho pai era o editor, no final da ditadura militar, mas agora o tempo é outro o mercado pede mais fúria, mas dúvidas, e é exatamente o que eu quero que faça de hoje em diante, eu quero mais verdade, fúria nua e crua, quero ira, é isso que se vende.”
Um fedelho que mal saiu dos cueiros vem dar palpites em minhas crônicas! Sou um lixo por permitir que tal fato tenha ocorrido.
Saí da sala, calado como um menino que apanha do colega na escola e quando chega a casa procurando o colo do pai para dar-lhe consolo apanha do pai para que nunca mais apanhe de ninguém na escola, saí encabulado, vencido, rendido, comprado e corrompido. Passei o dia na redação como um zumbi, um mero remendo do homem que outrora fui.
Ao anoitecer fui pra casa onde me esperava com um sorriso largo a flor-mulher, beijei-a, esse foi o único momento de alegria do dia, olhei para o lado minha filha olhava pra mim com os olhos esbugalhados e orgulhosos e com toda voracidade peculiar dos jovens me diz que acabara de receber o resultado do vestibular e tinha passado para jornalismo, nada falei, mas por minha feição percebeu com tristeza que nem de longe era isso que eu queria pra ela.
Senti-me beirando um abismo, sei que fui um lixo de pai por não parabenizar minha filha, mas não sou hipócrita, não posso apoiar aquilo que aos poucos deixo de acreditar, foi aí que pensei, se o “grande editor” deseja fúria, verdade, ira então tenho que dar a César o que é de César.
E foi assim que decidi escrever essa crônica intitulada A fúria.
Peço perdão se fui muito detalhista, muito furioso ou verdadeiro, mas se assim não o fosse talvez não mais fosse eu e sim um moleque que apanha na escola e ao chegar à casa de olho roxo jura para o pai que caiu da bicicleta, ou seja, se não escrevesse o que escrevi ou como escrevi seria um covarde.
Parabéns filha amada, espero que você seja bem melhor do que seu velho pai!
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