È noite de sexta-feira, uma sexta sóbria, amarelada, posso até dizer que meio sem graça, sem cara de sexta-feira.
Acabo de chegar do trabalho, decidi não passar no bar como me é de costume, hoje estou querendo apenas um jantar quente, um banho frio, e um bom livro para matar o tempo e a mente ociosa, esse deveria ser meu programa para uma velha sexta-feira cansada, mas não foi.
Ao adentrar meu sagrado lar, olho para cozinha em busca da flor-mulher, a vejo linda ao lado do velho fogão, algumas entenderão como machismo outros como amor incondicional, mas imagem mais linda não existe, minha flor-mulher no sagrado recesso do lar, que perfeição.
Vou ao quarto, tomo um bom banho, desço e janto, assisto um pouco de TV ao lado da flor-mulher, mas é sexta-feira, dia de ir ao bar, tomar todas, conversar bobagens, encontrar amores que ao amanhecer só te deixaram a conta pra pagar, isso se você levar de sorte, caso o contrário terá que encontrar um antídoto para todo o veneno que por ventura tenham deixado em seu corpo, alma ou coração.
Não, hoje não vou ao bar, preciso escrever algo que me agrade.
São 22h10min, a hora está me atormentando, melhor, serei mais justo em dizer que os dias estão me atormentando, estou me sentindo seco de boas idéias, já tem um bom tempo que não escrevo o que me agrada, ando escrevendo apenas o que vende, às vezes sinto-me um prostituto em fazer isso, é melhor parar de pensar besteira, fumar uns dez cigarros, tomar uma garrafa de uísque depois voltarei a escrever...
Já são 01h30min, hora de moço de família está dormindo, era assim que dizia minha falecida mãe, ai o uísque me deixou saudosista, bem já tomei minha garrafa de uísque, pena que descumpri uma coisa, disse que fumaria dez cigarros acredito que já passei dessa quantia parei de contar no décimo nono, ainda não tenho inspiração então vou para a janela com meu binóculo talvez veja algum casal transando ao sereno doce da madrugada, pois nada melhor que transar de janela aberta a 01h30min da madrugada, olho para todas as janelas, a maioria fechadas, não existe mais exibicionistas como antigamente, apenas uma está aberta, agora posso ver melhor, um casal discute posso perceber pelos gestos bruscos da mulher, o homem parece meio perdido, estou um tanto tonto, não sei se do álcool ou de ficar olhando nesse binóculo, tento parar de olhar, mas a curiosidade é mais forte, volto a olhar agora a mulher parece chorar na varanda, o homem se aproxima e leva uma tapa na cara, pela minha vasta experiência parece-me ser uma briga devido uma traição por parte do marido, mas deixando as suposições de lado, volto a olhar o apartamento do casal que diga-se de passagem fica de frente ao meu só que a diferença que tem entre ambos é que o prédio deles é um cinco estrelas e o meu é um zero estrelas, mas também deixo a inveja de lado e volto a observar a briga do casal, o homem tenta se defender das investidas violentas da mulher, a segura pelos pulsos com uma mão só, com a outra parece segurar-lhe o rosto, a nitidez é quase mínima pois está com pouca iluminação, em pouco tempo a briga termina, a mulher agora parece beber na varanda o homem fuma um cigarro sentado no sofá pensando algo, a mulher toma outra dose e olha para o homem, parece falar uma frase curta e rápida,mas foi algo muito forte de se ouvir pois homem levanta-se do sofá bruscamente anda rapidamente parece falar algo que a deixou transtornada mas ela já não tem como se mover está com os braços preços o homem a segura com força impulsiona-se para trás buscando força e antes que ela esboce qualquer reação ele a joga do décimo quinto andar, o homem parece não sentir remorso, não fica transtornado, bebe uma dose enquanto o corpo da mulher está dilacerado no chão devido a queda brusca.
Ligo rapidamente para policia, digo que acabei de presenciar um assassinato, óbvio que bebi muito e devido o excesso de álcool e o pânico de ver a pouco alguém sendo assassinada, minha voz ficou embargada, ao avisar a polícia que uma pessoa foi assassinada eles nem esperaram eu dizer o local ouvi uma voz que dizia a outro oficial:
__ Nenhuma ocorrência, o que vem da boca de bêbado não se escuta.
Como pensou que eu não estivesse escutado, tratou-me como um idiota e disse-me:
__ Ok senhor, ocorrência ouvida e registrada, tenha uma boa noite.
Ouvi sirenes e corri até a janela, era uma ambulância para levar a vitima acredito que até o hospital, a imprensa também chegou, o marido chorava em frente as lentes dos fotógrafos, fiquei até as 05h00min e não vi uma única viatura policial chegar, pela manhã sentado a mesa vi na capa do jornal a foto do assassino chorando e acima a manchete que dizia assim “Marido amoroso chora pelo suicídio da esposa” logo abaixo uma pequena parte do texto transcreverei agora “Suicida-se do décimo quinto andar senhora xxxx deixando toda sua fortuna para seu afetuoso marido o senhor xxx” mas essa é apenas mais uma história que vem da boca de um bêbado e o que vem não se escuta.
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