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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Amigo de bar


                                                                         
Nada mais fiel que um amigo de bar, pra ele podemos contar de tudo pois por mais bizarro que a história pareça ele sempre esquecerá no dia seguinte, ou pelos menos, deveria esquecer, mas para meu caro amigo Augusto Piettini a história não foi bem assim.
Como já é de costume, fui passar a noite de sábado enchendo a cara no botequim da esquina, eu estava sem a menor disposição para o sexo casual ou mesmo para minha velha escrita vulgar, então resolvi beber com os amigos pra desanuviar a cabeça e talvez obter informações para uma futura crônica banal, mas a noite esconde mil dramas, e meu ouvido e olhos estavam violentamente inspirados, olhando o botequim por inteiro, notei que meu amigo Augusto bebia sozinho, Augusto é um sujeito tipicamente normal, acho que dos amigos que tenho o Piettini é o único normal, é um arquiteto bem sucedido, casado, já tem dois filhos que estudam na Europa, Piettini, quase todos os domingos bebe conosco, mas é sempre um dos primeiros a sair, geralmente brecamos com o álcool juntos, eu sempre vou em busca do perigo, do amor de uma noite, do desejo lascivo e Piettini, pensava eu que iria para casa, deixemos os voltas para autores de romance... Resolvi sentar-me na mesa com meu amigo, por que sempre que vejo um amigo bebendo sozinho, imediatamente me ponho a pensar o que de tão grave estaria acontecendo em sua vida, por que para mim, beber sozinho é um passo para o suicídio, pois bem sentei ao seu lado e observando em silêncio vi que ele acabara de beber em um único gole uma dose dupla de wisque e uma lágrima rolou de seus olhos e morreu em sua boca, naquele momento soube que algo de errado acontecia, pensei em levantar-me e fingir que nada tinha percebido, pois não sou amigo de ombro sou mais de cuíca e cerveja, mas a verdade é que eu já estava preso naquele momento, então perguntei o que estava acontecendo, e se eu poderia ajudar, e foi aí que a história começou a tomar proporções gigantescas, transcreverei agora suas palavras com uma pequena licença a ética literária.
“Amigo, não tenho mais o que fazer, não sei com quem falar, tenho um problema e não tem cura, solução ou nenhum jeito que eu já não tenha tentado, estou cansado de viver uma vida que não é minha, casado de viver a sombra dos meus medos, cansado de fingir pra todos que sou o que nunca nem tive vontade de ser, tenho medo de por uma escolha que nunca foi minha eu colocar toda uma vida que foi construída a duras penas no lixo”
Sinceramente leitor, até então eu não tinha compreendido nada, talvez você já tenha descoberto qual será o final dessa conversa, mas eu nunca tinha me deparado com esse tipo de conversa, com esse tipo de dilema, então para mim ele poderia está falando até da queda da bolsa de New York, mas nunca poderia imaginar o final da conversa sem que saísse de sua própria boca, e ele continuou.
Sei que muitos me darão as costas, sei que muitos não me compreenderão, mas a verdade bate todos os dias a minha porta é como a morte reivindicando seu morto, é como o choro de uma criança com fome, é como a verdade arrobando a porta e agora é a hora dela sair, amigo eu sou gay
Mas uma lágrima corria pelo seu rosto, eu fiquei mudo, a frase dele ainda ecoava em meus ouvidos, naquele momento até o ar parou de freqüentar meus pulmões, pela segunda vez na vida alguém, conseguiu me calar.
Caros amigos, deixando o politicamente de lado, naquela hora passado o susto, a vontade que tive foi de perguntar se ele não tinha vergonha de não gostar de mulher, queria levá-lo as pressas para o melhor puteiro da capital para umas das rosas dar-lhe um trato de deixar o homem sem sentido, tive vontade de dar-lhe uns catiripapos e mandar-lhe ser macho, mas pensei bem, respirei, e pude observar o núcleo dessa questão, imaginei quantos anos esse homem estava sofrendo se escondendo à sombra no anonimato, pensei em o quanto foi difícil ele dizer isso para mim e pensei  o quanto seria ainda mais difícil ele dizer para sua esposa e filhos, eu sabia que os amigos do boteco não iriam entender, eu e ele sabíamos que ele iria ser ofendido e até mesmo agredido por muitos e depois de pensar nisso tudo a única frase que consegui pronunciar foi “A vida não vai ser nada fácil” e ao ouvir essa frase idiota o meu amigo de anos se levantou, beijou minha cabeça e saiu do bar, mudo, aparentemente humilhado, eu sei que ele merecia mais de mim, se ele me disse tudo aquilo, no mínimo eu deveria ter dado uma força, um toque, um abraço, deveria ao menos ter me mostrado solidário, mas não o fiz, não fiz nada, e como um verme me arrastei para a casa, em cada esquina desejava encontrar um facínora que pudesse dar cabo da minha imunda vida, mas não o encontrei, deitei na cama e rolei por horas, sem conseguir dormir, peguei o telefone e liguei para o Piettini, mas ninguém atendeu, lá pelas tantas consegui dormir, quando amanheceu, o céu parecia triste, no ar algo de pesado e sofrido o telefone tocou, sem ânimo atendi, a notícia veio seca e violenta Piettine se matou.
Hoje fiquei um pouco órfão, órfão de bom senso!

4 comentários:

  1. Essa arrasou, me prendeu do inicio ao fim imaginando cada cena como se fosse um filme.
    Parabéns, 1000 parabéns...
    bjos

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  2. Oi carissima amiga...

    Obrigada por ter gostado do meu mais novo texto,
    adoro ler seus comentários e em homenagem aos seus
    comentários, a minha proxima crônica será sobre inteligência feminina!!!!

    Bjosssssssssssssss

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  3. nossa, que historia!
    me imaginei em uma situaçao dessa!
    a historia me prendeu em cada detalhe o fim dela me deixou sem palavras!
    parabens!!!!!!!
    uma otima tarde!

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