Hoje tenho 52 anos, uma filha que não fala comigo e um neto que nunca vi o rostinho, tive um amor que também se foi, mas não culpo ninguém por isso, culpo somente a mim.
Sempre gostei de escrever, desejava e sonhava todos os dias me tornar uma grande escritora e aos 18 anos publiquei meu primeiro livro e foi um sucesso, depois do primeiro vieram vários outros, eu era uma escritora comum, eu amava a lua e seus mistérios, me sentia livre na madrugada, a solidão era minha melhor e mais freqüente companhia, me embriagava quase toda noite, não me envergonho em dizer, pois o álcool sempre foi minha fonte de inspiração, aos 25 anos eu já era respeitadíssima pela classe literária, eu estava ganhando bem para fazer o que mais gostava, a vida não podia está melhor, mas ainda assim sentia falta de algo, eu escrevia sobre amor e nunca o tinha olhado face a face, sempre brinquei com o coração, tinha casos de paixão frenética que durava o tempo necessário para uma relação sexual prazerosa, meu coração nunca passou mais de 24 horas ocupado com a mesma paixão, até que em uma noite chuvosa ao sair do bar, vi um belo homem, alto, forte, usando um terno bem alinhado mas todo molhado devido a chuva fina que caia, então parei o carro e conversando com ele, descobri que era argentino, ministro, tinha vindo ao Brasil para uma conferência e agora estava perdido sem saber voltar para o hotel, ele tinha tudo que eu mais odiava, era político, argentino e pra piorar ainda usava terno, mas algo nele gritava: “Devora-me”! E eu o devorei!
Passamos a noite juntos, não conto em detalhes por que prefiro deixar a sua imaginação vagar por caminhos sórdidos, caro leitor, mas continuando, passamos uma noite esplendorosa e na manhã seguinte estávamos casados, eu sabia que era algo novo, sabia que o amor requer renúncias, acreditei realmente que eu estivesse pronta para amar, fui embora para Argentina, larguei tudo e ficamos juntos por três anos, foram 1.095 dias de pura felicidade, como fruto desse amor, nasceu Camila e junto com ela veio a realidade, eu já não era mais eu mesma, vivia trancafiada num vestido de gala, entrando e saindo de jantares com pessoas vazias, Camila chorava, Nicolás sempre as voltas com reuniões intermináveis, não aquilo não era a minha vida, aquilo estava me matando, então voltei a escrever, precisava resgatar minha vida e acabamos nos separando, voltei para o Brasil trazendo na mala, esperança, alegria e Camila, comecei a trabalhar muito, priorizava sempre minha carreira, pois por ter parado por três anos, agora precisava correr atrás do tempo perdido, Camila foi criada a sombra da minha carreira, na verdade hoje percebo que ela só era realmente feliz, quando nas férias ia para Argentina encontrar com o pai com quem sempre e notoriamente foi mais apegada, mas só hoje consigo enxergar isso, antes eu acreditava que trabalhando muito como fiz, poderia lhe proporcionar uma vida cheia de luxo e privilégios e com isso ser uma boa mãe, claro que isso foi mais um estúpido engano para minha coleção de burrices, toda escritora gosta da solidão, vive em constante crise existencial e é por natureza um pouco egoísta, ganhei muito dinheiro e tudo que o dinheiro podia comprar eu deu a minha filha, hoje sei que não era isso que ela queria, o tempo passou, e aos 49 anos de idade percebi que minha vida pessoal estava um lixo, bebendo em exagero, fumava descontroladamente tentava afogar as magoas em um copo de conhaque, trabalhava como uma desesperada, amigos somente os de farra, minha filha tinha agora 24 anos, só falava comigo uma vez por ano, na noite de natal, ela estava a 05 anos morando em Londres estava grávida e eu nem mesmo sabia qual era o sexo do bebê, percebi que só tinha amado uma vez na vida e que queria de volta aquele sentimento, então liguei para Nicolás e por telefone fizemos juras de amor eterno, mesmo depois de anos longe, Nicolás ainda me amava, então decidimos que ele abandonaria a política e sua terra natal e viria morar comigo no Brasil e em troca eu seria pra sempre dele, abandonando de uma vez por toda o ofício da escrita.
No dia em que ele chegou ao Brasil eu estava escrevendo o último capítulo de meu último livro e não pude pegá-lo no aeroporto, estava chovendo, parecia com o dia em que eu o vi pela primeira vez, mas dessa vez não pude salvá-lo com meu carro então ele pegou um táxi e no caminho ligou para mim, por telefone prometi que quando ele chegasse em casa o livro estaria terminado e nossa vida enfim começaria, por sua vez ele prometeu que nunca mais me deixaria sair de sua vida e até brincou, pois no som do carro, estava tocando a musica (I’ve had) The time of my life, e ele com sua voz grave e urgente brincou dizendo “Coloque o vinho no gelo, prepare o som, por que hoje a noite dançarei essa música contigo” logo depois dessa frase, escutei gritos, um barulho ensurdecedor e precisamente as 20:55 o táxi em que ele vinha capotou três vezes na pista molhada e foi exatamente ai, que eu perdi o grande amor da minha vida, sem ao menos ter a chance de dizer: Eu te amo.
Depois disso a relação com minha filha, que já não era das melhores, agora desmoronou, ela nunca me perdoou e ela está certa, pois talvez se eu tivesse deixado o livro de lado e tivesse ido buscá-lo no aeroporto, isso nunca teria acontecido, abandonei tudo, resolvi me esconder nessa cidade onde nada sabem sobre mim, e toda noite, com uma esperança inocente escuto por muitas vezes essa mesma canção na esperança insana de que o meu Nicolás venha cumprir sua promessa e dance comigo mesmo sabendo que ele nunca retornará.
Então caro amigo, cuidado com o que deseja, você que está querendo seguir meus passos e ser escritor, saiba que sempre tendemos ao exagero, a solidão, eu troquei minha vida por um sonho e hoje não sei se valeu a pena.. Você ainda tem uma escolha... Desista da escrita!
__ Desculpe D. Angelita, mas um verdadeiro escritor nunca aprende com as experiências dos outros, só com as dele mesmo, mas mesmo assim obrigada por compartilhar sua história comigo, um dia a senhora lerá um livro meu pode acreditar! Boa noite, tchau!
__ Seu futuro, sou eu! Sinto muito!
OBS: Hoje, anos depois dessa história ter acontecido, percebo que D. Angelita tinha toda razão! Infelizmente!
Passando para te desejar uma boa semana.
ResponderExcluirNumca pensou em mudar o layot?
Algo mais claro e suave?
Bjus
Ola querida...
ResponderExcluirBonissima semana pra vc tambem e quanto o layot
de meu blog, gosto desse mesmo, não sei se reparastes, mas nos meus textos tem muito desse drama, dessa angustia, sou a favor do desabafo sombrio!
Mas espero que continue gostando e postando comentários sobre meus textos! E aí o que achou desse último???
Bjossssss
É claro que vou continuar visitando e comentando.
ResponderExcluirTalvez diminua as visitas pq voltei a trabalhar então o tempo é bastante reduzido.
E como tenho muitos blogs para retribuir as visitas,fica um pouquinho apertado.
Mas isso não quer dizer que vou te esquecer.
Excelente!
E antes de contar sobre o carro capotar, pensei...só falta o homem morrer. E foi isso mesmo.
Coitada da Angelita.
Teus textos são muito bons.
O que falta é tu passear um pouco pela blogosfera e atrair leitores para o teu blog.
Bjus
nossaaaa, fikei sem palavras com o tesxto..
ResponderExcluirsimplesmente perfeito.
uma historia pra tds nos refletir-mos!
parabenss
uma otima noite
Oi querida amiga blogueira do Apenas um sonho....
ResponderExcluirObrigada por seu elogio, sou sagitariana e só acho
que sou realmente boa se alguem me fala!!kkkkkk
Seu blog também é um maximo, espero que continue
postando comentários, obrigadissimo por sua visita
e tenha uma ótima semana!!!!
Bjosssssssssss
Eu fikei totalmente arrepiada... e um texto me arrepiar assim, menina, tem que ser o texto!!!!!
ResponderExcluirLindíssimo ♥